segunda-feira, 7 de abril de 2014

Meu ex-câncer de mama: radioterapia e família – parte 8


Essa coisa do tratamento de câncer é meio complicado porque demanda tempo e paciência. Várias outras atividades da sua vida ficam paradas ou hibernando. Uma semana fazendo radioterapia parece ser uma vida. O processo é indolor e rápido, no entanto, a sala tem uma temperatura que beira os 15º e com o frio (só posso agasalhar da cintura para baixo) chego a imaginar que vou ser congelada. A sessão é diária. São todos os dias, menos sábado e domingo.

A radioterapia acontece no Hospital Português (mais parecido com hotel 5 estrelas do que um espaço de tratamento). Somos catalogados com pastinhas e cartão de acompanhamento. A média de pessoas que faz o procedimento todos os dias gira em torno de 30. O câncer não escolhe cor, raça, etnia, sexo, nem classe social. Os tipos são variados, no entanto, o sexo feminino é sempre o mais atingido.

Então percebo que Deus tem sido muito bom comigo. Cada vez mais. Através desta enfermidade estou “morando” na minha cidade novamente. Conversando com amigos que não vejo há muito tempo e convivendo diariamente com pessoas da minha família que praticamente só encontro uma vez ao ano.

O hospital é o local em que passo uma parte do meu dia. É nesse ambiente à La hotel 5 estrelas que minha cunhada Shirley administra um salão de beleza e dois cafés. Os espaços são aconchegantes, finos e bem ao estilo primeira classe. Shirley é uma dessas mulheres que a gente chama de batalhadora. Ralou muiiiitoooo pra chegar numa situação, digamos, confortável. Tem o sobrenome Molina, mas poderia ser “trabalho”. A palavra se encaixa melhor.

Enquanto aguardo a minha hora de entrar na sala de “fazer gelo”, converso e acompanho atentamente os afazeres de Shirley. Entre um corte de cabelo, uma reunião com supervisora e gerente, orientações a funcionários, um beijo nas filhas,Maria Carolina Molina (que trabalha com ela) e Maria Eduarda Molina, ela balança o neto no colo, depois o coloca no carinho e vai se reunir com colegas de sala de aula. Pois é, ela ainda arruma tempo para estudar. Faz administração no turno da noite.

Shirley é o tipo de mulher que a gente fica se perguntando “como é que ela consegue?” Já faz uns vinte e poucos anos que a conheço. Nunca a vi cansada. Sempre trabalhou como um trator (alias é de família, seus irmãos seguem a mesma cartilha).

Ela é do tipo “faz tudo”. Fora e dentro de casa. Um exemplo de mulher dinâmica, organizada, competente. Os poucos momentos que a vi chorar sempre esteve associados a uma decepção com alguém. Nunca a vi murmurar e muitos menos reclamar da vida e dos problemas (que eu mesma sei que não são poucos).

Assim, penso que Deus tem sido muito bom comigo. Através da minha ex-enfermidade estou vivendo esses momentos especiais e fazendo um registro com um olhar contemplador nas pessoas. Afinal, a vida passa tão rápida que não percebemos o quanto é importante consolidar nossas amizades e fortalecer nossos laços familiares.