segunda-feira, 7 de abril de 2014
Meu ex-câncer de mama e o câncer de alma – parte 7
Quando descobri o câncer de mama não passava pela minha cabeça a possibilidade de lidar com pessoas com câncer de alma. O câncer de mama é diagnosticado (na maioria das vezes) pela mamografia ou ultrassonografia (que foi o meu caso) e quando descoberto no início (também foi o meu caso) a chance de cura beira os 100%.
O câncer de alma tem um diagnóstico mais avassalador. Está hospedado em pessoas que são amarguradas, mal amadas, depressivas, que estão sempre cansadas (acabadas), que precisam que outras pessoas falem sucessivamente que elas são “guerreiras”, “heroínas” porque enfrentam desafios (como todo ser humano vivo enfrenta). São pessoas que querem que o mundo gire em torna delas, se sentem vitimas de qualquer coisa e precisam ser “prestigiadas” em tudo que faz para não exalar crises de justificativas.
O câncer de alma já nasce com metástase. Espalha-se não apenas pela alma, mas pelo corpo e quer atingir outras pessoas. Este é o foco principal. O lema de pessoas que têm câncer de alma é “se não sou feliz, os outros também não podem ser”.
Quem tem câncer de alma faz poucos ou quase nenhum amigo. Sobretudo aqueles que discordam da sua metodologia de vida, que querem ajudar, contribuir com mudanças. Esses não podem ser amigos porque não concordam com o modus operandi da pessoa que detém essa doença.
A pessoa que tem câncer de alma vive em torno de si mesma e se realimenta do passado. Seu assunto predileto é falar dos problemas que viveu, dos conflitos, de sofrimento e dor. A Bíblia diz que devemos trazer a memória tudo aquilo que nos traz esperança. Quem tem câncer de alma faz o contrário: guarda magoa e rancor. É do tipo que briga com alguém da família e fica sem falar pro resto da vida e ainda acha isso um ato de heroísmo.
Hoje, diante do meu tratamento de radioterapia, das diversas dificuldades que passamos em função das medicações e coisa do gênero, penso que sou uma pessoa abençoada por Deus porque o meu câncer foi de mama e não de alma.
Olho para frente com disposição para enfrentar os conflitos e me alegro porque meu coração, minha mente, minha vida não têm câncer de alma. Nesse período de tratamento no Recife, conviver com pessoas com câncer de alma será o meu maior desafio.
Mas, o Senhor está comigo, sempre.