Futebol, cerveja e mulher gostosa. A frase abre o texto, mas
poderia fazer parte de qualquer slogan publicitário da Copa. Afinal, não é de
hoje que a mulher é retratada na nossa propaganda de bebida, especificamente
cerveja, de modo sensual, insinuador, libidinosa e promovida como um produto à
venda. Chega próximo de uma apologia à prostituição. Dito de outra forma: ao
sexo fácil.
E não me venha com essa conversa de conservadorismo,
liberdade de escolha e o que faz sucesso no momento a “liberdade de expressão”.
Por falar nisso, vale questionar: expressão de quê? Do corpão?
Mulheres popozudas, bombadas, quase nuas e com caras e bocas
do tipo “você quer”, se permitem ser retratadas, execradas na guerra das
cervejas buscando o ápice do desejo masculino ( meio voyeurismo, fetiche
ou qualquer coisa do gênero).
No país do contra-censo, das aberrações sociais e da ausência
de limites (em quase todos os sentidos)
associar futebol/cerveja/mulher parece ter tudo a ver. A ver com que mesmo? Com
essa tal hipocrisia de algumas figuras da chamada classe política que levanta
uma bandeira de moralidade que nem mesmo parte das suas famílias está inclusas.
A cultura brasileira estimula a imagem apelativa de mulheres
como objeto de consumo? Sim. Na recepção dos turistas estrangeiros nos
aeroportos com apresentação de mulatas seminuas dançando; em diversos vídeos de
apresentação comercial/turístico fora do país; em programas de televisão; em
várias campanhas publicitárias e por aí segue.
O relato acima é real e precisa entrar no debate diário com
a sociedade. Esse histórico contribui para iniciativas infelizes como esta da
empresa Adidas. Ainda assim, vale uma reflexão: como uma empresa tão bem
conceituada e patrocinadora oficial da Copa se permite fazer uma campanha publicitária
tão desrespeitosa como esta?
Como uma empresa do porte da Adidas aprova uma peça com
explicita conotação depreciativa? Passou pelos olhos de todos profissionais de
comunicação, marketing, direção geral, mídia, editor de conteúdo...e foi
exposto à venda?
Alguém pode imaginar o quanto os alemães ficariam furiosos
no caso de alguma empresa estrangeira criar uma peça publicitária em plena Copa
retratando a Alemanha com o período do nazismo?
E que tal fazer uma campanha nas redes sociais tipo:
“Adidas não representa o Brasil.”
“É Adidas? Não compro. Não quero.”
“Adidas. Tô fora.”
“Adidas. Esta marca queimou o Brasil”.
A empresa pode até ter pedido desculpas, retirado o produto
do site, explicar que a venda era apenas nos EUA (como se a internet não
encurtasse o mundo) e que respeita seus consumidores. Respeito seria se ela
nunca tivesse aprovado uma campanha desse porte.
Mas, palmas para imprensa. Apesar de ser apedrejada pela
classe política e chamada de golpista em muitos momentos, foi ela quem trouxe à
tona o debate.