terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Apelo sexual


Futebol, cerveja e mulher gostosa. A frase abre o texto, mas poderia fazer parte de qualquer slogan publicitário da Copa. Afinal, não é de hoje que a mulher é retratada na nossa propaganda de bebida, especificamente cerveja, de modo sensual, insinuador, libidinosa e promovida como um produto à venda. Chega próximo de uma apologia à prostituição. Dito de outra forma: ao sexo fácil.

E não me venha com essa conversa de conservadorismo, liberdade de escolha e o que faz sucesso no momento a “liberdade de expressão”. Por falar nisso, vale questionar: expressão de quê? Do corpão?

Mulheres popozudas, bombadas, quase nuas e com caras e bocas do tipo “você quer”, se permitem ser retratadas, execradas na guerra das cervejas buscando o ápice do desejo masculino ( meio voyeurismo, fetiche ou qualquer coisa do gênero).

No país do contra-censo, das aberrações sociais e da ausência  de limites (em quase todos os sentidos) associar futebol/cerveja/mulher parece ter tudo a ver. A ver com que mesmo? Com essa tal hipocrisia de algumas figuras da chamada classe política que levanta uma bandeira de moralidade que nem mesmo parte das suas famílias está inclusas.

A cultura brasileira estimula a imagem apelativa de mulheres como objeto de consumo? Sim. Na recepção dos turistas estrangeiros nos aeroportos com apresentação de mulatas seminuas dançando; em diversos vídeos de apresentação comercial/turístico fora do país; em programas de televisão; em várias campanhas publicitárias e por aí segue.

O relato acima é real e precisa entrar no debate diário com a sociedade. Esse histórico contribui para iniciativas infelizes como esta da empresa Adidas. Ainda assim, vale uma reflexão: como uma empresa tão bem conceituada e patrocinadora oficial da Copa se permite fazer uma campanha publicitária tão desrespeitosa como esta?

Como uma empresa do porte da Adidas aprova uma peça com explicita conotação depreciativa? Passou pelos olhos de todos profissionais de comunicação, marketing, direção geral, mídia, editor de conteúdo...e foi exposto à venda?

Alguém pode imaginar o quanto os alemães ficariam furiosos no caso de alguma empresa estrangeira criar uma peça publicitária em plena Copa retratando a Alemanha com o período do nazismo?

E que tal fazer uma campanha nas redes sociais tipo:

“Adidas não representa o Brasil.”
“É Adidas? Não compro. Não quero.”
“Adidas. Tô fora.”
“Adidas. Esta marca queimou o Brasil”.

A empresa pode até ter pedido desculpas, retirado o produto do site, explicar que a venda era apenas nos EUA (como se a internet não encurtasse o mundo) e que respeita seus consumidores. Respeito seria se ela nunca tivesse aprovado uma campanha desse porte.

Mas, palmas para imprensa. Apesar de ser apedrejada pela classe política e chamada de golpista em muitos momentos, foi ela quem trouxe à tona o debate.