quarta-feira, 13 de agosto de 2008

JC faz chamada de capa apelativa

A imprensa escrita parece não ter mais tantos elementos para atrair o leitor e busca trazer à tona a tão discutida espetacularização midiática.
Hoje (13/08/08) o Jornal do Commercio faz uma chamada de capa, Show de ousadia em assalto a agência do Banco do Brasil no Espinheiro, ratificando a máxima de que a “notícia ruim é o que faz vender”.

Com um título sugestivo a trágica-comedia a proposta tenta chamar a atenção do leitor para algo inusitado. Como se falar de assalto fosso sempre tão corriqueiro e exatamente numa cidade como o Recife e neste caso é preciso muito mais do que simplesmente informar. É preciso glamourisar para fisgar o leitor e mostrar que assalto espetacular não é um privilegio apenas do Rio de Janeiro e São Paulo.

A gente também produz esse tipo de tragédia. E por que a imprensa não evita esse tipo de chamada?

A palavra show nos remete a um evento de entretenimento e geralmente está associada a espetáculo, na essência da palavra, e de forma positiva e estimulante.

Portanto, vejo como totalmente desnecessária a chamada espetacularizada, mesmo que a ação dos bandidos tenha sido “cinematográfica”. Isso nos leva a pensar sobre a influência imagética do cinema como ficção e a tal realidade que nós da imprensa pregamos como absoluta.

A pergunta é? A quem interessa saber que o roubo foi um “show de ousadia”? Se assim fazendo não estamos estimulando os nossos bandidos de carteirinha a buscar cada vez mais ser comparados aos heróis “roliudiano” e, portanto estar na mídia “fazendo seu show”?

É uma reflexão que cabe a nós enquanto imprensa fazermos.
Agindo assim estamos alimentando a “sociedade do espetáculo” e nada contribuindo em termos de informação. Lembro ainda que dentro do caderno Cidade, para o qual a chamada foi destinada, o título da matéria já teve outra posição: “Um assalto rápido e ousado”. Fizeram o quê com o “show”?

Parece que já chegou a hora do Jornal do Commercio (e já é tarde...) pensar na contratação de um ombudsman (o que já acontece, desde 1989, em alguns jornais de grande circulação) para melhor refletir sobre essas questões.