domingo, 2 de março de 2008

Se a gente não ler poesia... morre antes do tempo

Foste Tudo...
Não Foste Nada...

Emília Possídio

Foste silêncio nas longas esperas,
pergunta sem resposta (presa) ao coração,
obra inacabada ultrapassando eras
esquecida na estante da ilusão.

Foste tristeza nos jardins do mundo,
onde a açucena não pariu a flor
e o sorriso, num rosto moribundo,
perdeu-se na noite, morreu sem cor.
Foste incerteza em caminhos duros,
dúvida...Quisera eu - fosses verdade!
Foste nuvem vagando nos escuros
das noites sem nenhuma claridade.

Foste solidão, campo abandonado,
fenecer do amarelo dos trigais
impedidos de crescer no prado,
por teus passos sem rumo e marginais.

Foste tudo, naquela madrugada,
mas não ouviste o som dos madrigais!

(Emília Possídio)
Recife, 28.02.2008

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Glosa de Lêda Mello

Mote:
Foste silêncio nas longas esperas,
pergunta sem resposta (presa) ao coração,
obra inacabada ultrapassando eras
esquecida na estante da ilusão.

GLOSA:

Vieste à minha vida e te fiz senhor,
Tudo te dei no nada das quimeras.
Eu fui palavra expressando amor,
Foste silêncio nas longas esperas.
Nesse intervalo de uma vida inteira,
Do tudo que sonhei foste a fração,
Elo perdido n'alma prisioneira,
Pergunta sem resposta (presa) ao coração.
Trecho de um livro que não foi escrito,
Gotas de chuva em céus de primaveras,
Tela esquecida no tempo infinito,
Obra inacabada ultrapassando eras.
Do tudo que sonhei, sincero e franco
E dei abrigo no meu coração,
Restou o nada de uma folha em branco
Esquecida na estante da ilusão