quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

A TV das ilusões: uma janela para o nada

Em pleno ano eleitoral, aumento de impostos (com efeito cascata), impunidade nas polícias, na política e na justiça, explosão de propagandas de drogas lícitas como cerveja e cachaça e para desviar a possibilidade e a capacidade do telespectador em refletir sobre o que realmente acontece neste país globalizado e alienado tem o 8º exemplar do Big Brother Brasil nos lares brasileiros.

Tanto é assim que a mídia se rende aos “encantos inovadores” dos participantes e reproduz de forma avassaladora os pormenores da tão famosa casa como se isso fosse a pauta da vez. A tirar pelas páginas principais dos jornais e revistas, bem como sites que são referências em notícias, fazem bom uso da audiência um box especial para os apreciadores de coisas pasteurizadas.

O fenômeno comunicacional, que vem sendo realimentado há quase 10 anos, pode ser um indicador do cansaço da audiência em perceber apenas notícias rotineiras dos telejornais que mudam apenas de canal e roupa mas o conteúdo é semelhante. Outro fator que contribui com este cenário pode ser as poucas opções de canais e programações, deixando o telespectador com o comodismo de aceitar qualquer coisa para assistir já que qualquer outra saída vai chegar no mesmo lugar: nada.

Assim caminha a nossa televisão considerando o alcance da maior emissora do país (Rede Globo), e compreendendo que quase nada tem sido feito no sentido de reverter este quadro. Radicalismo à parte, a TV, hoje, é praticamente uma janela aberta para o nada. E assim sendo, que função podemos delegar a grande mídia que não seja de alienação e desequilíbrio do processo de renovação social? Que sociedade estamos formando onde nos bancos universitários, nos bares e nas baladas, jovens e adultos têm o mesmo discurso: o que acontece na famosa casa do BBB.

A construção imagética do programa BBB pode ser o resultado de uma sociedade que já vem assimilando conteúdos nada edificantes e questionadores e portanto, pouco tem a dizer, indagar e refletir sobre a possibilidade de novos conhecimentos e avanços dessa sociedade.

Dessa forma, a mídia consolida e estimula este processo degradante na medida em que pouco ou nada faz para reverter este cenário. E fazendo questionamentos apenas nos centros acadêmicos criamos uma rotina do discurso embolado, isto é, apenas para o mesmo grupo, os mesmos pares, as mesmas “cabeças”.

A TV das ilusões entrou na UTI. Algo tem que ser feito com urgência no sentido de modificar o quadro clínico antes que a causa morte seja a inércia de uma sociedade em transformar esta mesma sociedade.