quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Texto postado pelo Noblat em seu blog (link ao lado)

Por que se arriscar por ele?

Renan Calheiros vale uma missa? Vale a desmoralização do Senado? Vale a suspeição generalizada que se abaterá sobre seus pares caso eles o absolvam? E absolvê-lo por quê? Por que é falso o parecer do Conselho de Ética do Senado, aprovado na semana passada por 11 votos contra quatro, que recomenda a cassação do mandato de Renan?

E absolvê-lo para quê mesmo? Para que continue sem condições de presidir o Senado? Para que continue sendo contestado por aqueles que tantas vezes exigiram seu afastamento do cargo? Para que responda a mais três novos processos? Para que não possa transitar livremente em locais públicos sem se arriscar a ser desacatado? Para que os senadores enfrentem situação parecida?

De que foi acusado Renan? De ter usado dinheiro do lobista de uma empreiteira para pagar despesas de sua ex-amante, mãe de uma filha dele. Poderia ter pedido socorro a outro tipo de amigo para intermediar os pagamentos, não podia? Ou ele mesmo poderia ter feito os pagamentos via, por exemplo, transferência eletrônica. Não teria sido mais fácil?

Também não teria sido fácil provar que usou o amigo apenas como intermediário? Bastava apresentar comprovantes de saques em suas contas e de depósitos em contas da ex-amante - mas nem mesmo isso ele fez. A perícia da Polícia Federal concluiu que as datas de saques não batem com as datas de depósitos.

Como homem rico que é, bastava que Renan provasse que tinha renda suficiente para bancar os gastos da ex-amante e da filha - mas nem mesmo isso ele provou, conforme atesta a perícia da polícia. E ainda apelou para a história inverossímel de um empréstimo que teria tomado à locadora de veículos Costa Dourada, de um amigo de Maceió.

Empréstimo parcelado ao longo de dois anos... Empréstimo que não foi registrado em cartório. Que não foi declarado à Receita Federal. Que não foi pago até hoje. Empréstimo que a tal locadora não poderia ter concedido porque em um dos anos ela sequer pagou dividendos a seus acionistas. Mas foi dela que Renan insiste em dizer que tomou dinheiro emprestado... Dá para acreditar?

Renan teve 120 dias para convencer seus colegas e a Nação que é inocente. Não convenceu. E só fez mentir. Mentiu, mentiu, mentiu e se enrolou nas próprias mentiras.

Mentir é faltar com a decência. É quebra de decoro. Luiz Estevão de Oliveira foi cassado pelo Senado porque mentiu. Nixon renunciou à presidência dos Estados Unidos porque mentiu.

Que diabos os colegas de Renan no Senado têm a ver com tudo isso? Por que devem socorrer alguém tão descuidado? Por que devem pôr a perigo seu próprio futuro político? O futuro político de Renan já foi pelo ralo. Ele perdeu a condição de estrela de primeira grandeza da política nacional - e jamais a recuperará. Por que, ladeira à baixo, terá de arrastar consigo o Senado?