quarta-feira, 12 de setembro de 2007

A mídia está sem discurso?

Tudo indica que sim. Nos últimos meses a mídia ora se posiciona de forma radical em acusar, julgar e condenar o presidente da república no caso específico do acidente da TAM, por exemplo, ora faz uma grande cobertura e desdobramento no escândalo do Mensalão.

Ora está a frente dos fatos, investigando, instigando o debate e trazendo à tona o caso Renangate, ora está omissa, a reboque das agendas diárias e pouco argumenta e busca fatos novos.

Em um grande momento histórico chega a manchetar frases de efeitos que exaltam, estimulam o leitor a acreditar na finalização com justiça e sem impunidade do maior julgamento da história do Superior Tribunal Federal, STF, no caso Ali Baba e os 40 ladrões. Chega então a esmiuçar com requinte de detalhes as operações ilegais dos envolvidos bem como serviços, falcatruas e desvios de dinheiro público. É o apogeu da mídia.

Na reta final do caso Renan, quando a imprensa já valorosamente contribuiu para não mudar a cena e deixar passar no esquecimento a informação, volta à mídia a pisar na bola.

Deixou de buscar nos bastidores do Congresso a notícia, os fatos, os dados. Passou batido aos olhos dos jornalistas formiguinhas que dormem entre os malls do Senado e da Câmara o engavetamento da emenda constitucional (aprovada em primeiro turno em 5/9/2006, por 383 a zero ) que acabava com o voto secreto na Casa. Se antes tivesse vindo à tona tal informação não estaríamos vendo hoje uma votação fechada no Congresso onde os aloprados e usurpadores do bem público definem o que acham ou deixam de achar sobre um político falido e morto moralmente pela sociedade e um Senado na UTI de um dos hospitais do Iraque em pleno bombardeio.

Quer pelo sim, leia-se cassação, quer pelo não, já está registrada na história a ditadura dos senadores, eleitos democraticamente pelo povo, em prol de suas benesses. Com este fato, o grupo de “representantes” legalizados pelo voto direto para empunhar bandeiras em benefícios do exercício da cidadania e consequentemente da democracia abre um precedente de movimento golpista dos direitos dos verdadeiros cidadãos.

Tal corporativismo é a consolidação do fracasso da construção de uma democracia legítima. Excluir a mídia e a sociedade da participação desse processo é assinar a sentença de morte total da liberdade de informação de um fato que é na essência totalmente público.