quarta-feira, 18 de julho de 2007

O que a Fenagri tem a ver com a prostituição?


Há 18 anos que a Fenagri, Feira Internacional da Agricultura Irrigada, acontece no Vale do São Francisco, alternando em cada ano nas cidades de Petrolina/PE e Juazeiro/BA. Considerada pelos organizadores a maior feira de fruticultura irrigada da América Latina, o evento recebe empresários, investidores do agro negócio de vários paises, inclusive europeus. Este ano a feira acontece entre os dias 18 e 21 de julho na cidade de Juazeiro, a 500 quilômetros da capital baiana, Salvador.

Todos os hotéis e pousadas das duas cidades e das localidades circunvizinhas ficam lotados neste período. O comércio e os serviços também entram em ebulição durante a feira. O movimento das cidades em relação ao fluxo de carros, volume de compra e venda de produtos, visitação em pontos turísticos e vinícolas, empregos diretos e indiretos e a área gastronômica ganham uma nova dimensão nesta época.

A Fenagri é a vitrine do agro negócio da fruticultura nacional, tanto para produtores rurais como para fabricantes e vendedores de equipamentos e insumos agrícolas. É também um espaço de grandes negócios na área de exportação e de implantações de novas culturas além da possibilidade de empreendimentos em outras áreas.

E o que isso tudo tem a ver com a prostituição? Esta é pergunta que não quer calar.

Afinal, aproveitando o fluxo de pessoas que circulam neste período, vários outdoors estão espalhados nos principais pontos das duas cidades vendendo um produto que jamais poderia ser vendido: o ser humano, especificamente, a mulher. Loura, morena, bonita e corpo escultural elas estão em poses sensuais, agarradas em frutas e vinhos (produzidos em nossas vinícolas, claro...) associando a temática simbólica à feira. As peças trazem imagem, textos e frases de impactos para atrair “clientes” e divulgar o local onde eles podem achar o produto: a casa de show Chalako.

Deixando o moralismo à parte, o grande questionamento é: o que a Fenagri tem a ver com a prostituição? E aí entramos numa análise até mesmo sociológica da construção de conceitos morais na sociedade a partir da visão machista e determinante do homem. Até porque, todo esse conceito que está totalmente explícito nos cartazes não foi feito para atrair mulheres e sim homens. E mais, a imagem agregada a esse tipo de evento associada a vinda de estrangeiros e empresários de outros estados com o propósito de fazer negócios na feira, parece totalmente, prostituir o próprio evento.

E onde está à raiz disso tudo? É importante ressaltar que em muitos eventos do porte da Fenagri, negociações paralelas envolvendo prostituição não são novidades. Contudo, os cuidados na produção e divulgação do evento como um todo fazem a diferenciação entre eles. E aí entram vários segmentos que estão entrelaçados, ligados entre si, não cabendo apenas ao dono do chamado “prostíbulo” a responsabilidade do todo.

Afinal, alguém se permite panfletar cartões do Chalako no portão principal da feira e alguém permite que isso aconteça. Por outro lado, alguém se deixa e quer se prostituir, se vender neste show onde alguém se permite ir até o local, pagar pelo "serviço" e também se prostituir. Alguém se permite criar, produzir e veicular as peças publicitárias e outro alguém se permitir alugar o espaço para veiculação dessas peças. A mídia se permite ficar omissa em muitos casos, a sociedade se permitir gritar em outros e alguém posa de falso moralista e ganha com todo esse jogo midiático.

E isso tudo é sabido lá fora? Claro que sim. E quem disse aos expositores, empresários e profissionais que trabalham neste evento que isso não é divulgado lá fora? Quem disse que não foi divulgado lá fora este "entretenimento" como parte integrante da feira? Nenhum deles pode dizer.

Hoje, com toda nossa tecnologia e com uma mídia globalizada e socializada, quando o assunto rende notícias, nada poderia mesmo ficar de fora. E mais, o ti-ti-ti de quem vem e vai ainda é maior nesse tipo de divulgação.

O nosso questionamento é: até que ponto temos que prostituir nossa raiz, nossa identidade, nossa cidade, nosso povo porque alguns acham que isso é propaganda, publicidade e nada vai atingir a nossa imagem? Relembro então que o pastor Martin Luther King (1929/1968) disse em um de seus discursos que o “mundo é difícil de viver, não pelas pessoas que fazem o mal, mas por aquelas que se sentam e deixam que esse mal aconteça”. Estamos fazendo alguma coisa para mudar isso?