sexta-feira, 20 de julho de 2007

Fenagri e prostiuição: leilão de mulheres

Foto site Fenagri (www.fenagri2007.com)

A repercussão do artigo que fiz dia 18/07 sobre “O que a Fenagri tem a ver com a prostituição” foi realmente surpreendente. Confesso que nem eu mesma esperava tanto, inclusive da própria imprensa. Muitas pessoas ligaram, passaram e-mails e algumas postaram mensagens no blog.

Todas queriam mostrar à indignação em relação à campanha de prostituição explícita da casa de show Chalako associada à Fenagri, a maior feira de fruticultura irrigada da América Latina, que acontece de 18 a 21 de julho, na Orla Nova de Juazeiro/BA. Um evento grandioso, em nível internacional e que não deixa a desejar a nenhuma capital do país em termos organizacional e estrutural.

Como se fosse pouco a campanha publicitária com as peças de outdoor nos pontos principais das duas cidades expondo o “produto mulher” como objeto de venda, há também a distribuição de cartões e panfletos dentro da própria feira com o objetivo de estimular e conduzir o visitante a participar da “rodada de negócios” que acontece na casa de show: o leilão do “produto mulher”.

A formatação dessa “negociata” é estabelecida no recinto. O “produto” é exposto para platéia (de homens) em diversas “posições”, utilizando ainda os elementos que se associam a feira, como a uva e o vinho, ao som de melodias contagiantes. Em determinado momento começa o leilão. Os “compradores do objeto” (é podre isto!!) fazem o lance a partir do valor mínimo: R$ 1.000,00. O processo é semelhante aos grandes leilões de arte, de cavalo e gado: vence quem bancar o maior valor. O prêmio? Que neste caso, não é nenhum tipo de animal irracional ou obra de arte (plástica) é uma das “mulheres objeto” que seguirá com o “comprador” para um momento de orgia.

Consciente de que a prostituição é o comércio habitual ou profissional do “amor” sexual, ambos, não apenas a mulher estão envolvidos consensualmente num ato de degradação humana. Afinal, até onde conhecemos o conceito de mercado, ponto de encontro entre a venda e a demanda, o ser humano é invendável. Jamais poderia ser objeto de negociação. Portanto, nada justifica a ação mesmo que alguns possam dizer que isto sempre existiu desde a época de Cleópatra e das bacanais de Herodes.

O resultado desse marketing horrendo é a imagem prostituída de uma feira que tem no seu bojo projetos para viabilizar empreendimentos na região. Inclusive, em função das visitas de várias delegações estrangeiras ao evento com a presença de representantes de diversos segmentos entre eles jornalistas, o nível de propagação desse tipo de “entretenimento” deve ganhar proporções imagináveis. Até porque entre tantos argumentos para produção de matérias a mídia, em geral, trabalha exatamente com o fato novo, com coisas diferentes, que chamem atenção.

Este é um momento de muita reflexão por parte das instituições constituídas como o Ministério Público, Associação em Defesa das Mulheres contra violência, pastorais, igrejas, ONGs e a sociedade em geral. Afinal, o questionamento tem que ser feito no sentido de mudar este cenário. Até porque os que ganham com esse tipo de comercio não mexerão uma só palha para essa mudança e até argumentam que isto é um negócio como outro qualquer.

E os que perdem? Perdem os organizadores da feira, a população das duas cidades, a publicidade e a propaganda, as empresas que vendem suas imagens corporativas, os governos municipais e estaduais e a própria sociedade.

E a mídia neste contexto? A mídia perde a oportunidade de apresentar à sociedade todas as possibilidades de analisar, questionar e opinar esta realidade a partir dos fatos divulgados por uma imprensa comprometida em exercer o seu papel.