terça-feira, 26 de junho de 2007

PT e seus desafios

Recebi este artigo do amigo Bráulio Wanderley, professor, historiador, geógrafo, dirigente do Sindicato dos Professores de PE e militante do PT-PE. Confesso que fiquei surpresa pelo discurso, faço questão de postar, porque Bráulio é petista rooooxxxxxooo. E hoje, ele próprio está reconhecendo como o partido deixou (deixa) a desejar quando o assunto é a prática do discurso pregado durante tantos anos pelo próprio PT. Vale a pena navegar nesta leitura.

“O Brasil é um país interessante, para ser irônico, pois um escândalo se abafa com o surgimento de um novo. Foram os casos da pensão de origem duvidosa do presidente do senado Renan Calheiros (PMDB-AL), do Vavá, irmão do presidente Lula e o retorno do apagão aéreo. Em tempos não muitos longínquos o PT já teria feito inúmeros requerimentos de aberturas de CPI’s, impetrações no ministério Público e no STF, mas como diz o ditado quem tem telhado de vidro...

Observando os últimos anos, percebemos que a corrupção no Brasil não tem coloração partidária nem opção ideológica. Ela é fruto da deturpação de valores éticos de da complacência da maioria da população alienada pelos veículos de comunicação que se encarregam de “abafar os casos” por diversos interesses.

Mas como bem disse o presidente Lula na sua primeira posse: “todos têm o direito de errar, menos eu”. É fato que neste segundo mandato, o presidente passou a se dedicar mais na condução política de seu governo, vide a demora em escalar um time “sem capitão”, após perder seu staff com os sucessivos escândalos entre 2004-2006. Saíram de cena petistas históricos como José Dirceu, Antônio Palocci, José Genoino (que retornaram à câmara dos deputados, mas não dão o ar da graça), Luiz Gushiken, entre outras estrelas de “primeira grandeza”.

Entretanto, esperávamos mais nesse segundo mandato. Com 37 ministérios (um absurdo!), o governo segue a sua cartilha continuísta na macroeconomia, melhora o Fundef através do Fundeb (e frustra aliados históricos do movimento sindical com o famigerado piso-teto salarial de R$ 850,00 até 2009! Para os professores da rede pública de ensino cuja jornada semanal seja de 40 horas). Por falar em 40 horas, o governo ainda não se pronunciou com relação a esta bandeira do PT e da CUT que é a redução da jornada semanal sem redução salarial. Cadê a reforma trabalhista?

Ao que parece, além da crise de afirmação socialista, o PT perdeu sua identidade com a ética. A crise atinge a esquerda como um todo, pois é associada à maior referência de massas criada no Brasil após o velho Partidão dos anos 40-60.

Como justificar ao povo que da ante-sala do 3º andar do planalto à copa de São Bernardo a corrupção estava correndo solta? Culpa do PT.

Avaliando de forma histórica, ponderemos: o Brasil é um país messiânico por essência, sempre requisitando em determinados momentos a postura (muitas vezes autoritária), de salvadores da Pátria. Foram Vargas, Tancredo Neves, Collor e o próprio Lula, cujo PT e a esquerda ajudaram a alimentar suas vaidades a partir de 1998. Naquele ano o hoje ministro Tarso Genro se dispôs como alternativa a Lula, mas foi barrado por José Dirceu, então presidente do Partido. O mesmo aconteceu com o companheiro de armas (da época da Dissidência Estudantil e da ALN), Vladimir Palmeira, que teve sua candidatura ao governo do RJ cassada pelo diretório nacional petista a “pedido” de Brizola que condicionou sua participação na chapa de Lula desde que Garotinho, então no PDT, tivesse o PT de Benedita da Silva como aliado fluminense.

Sendo assim, fica difícil reconstruir uma história de lutas sociais quando elas foram secundarizadas por um grupo que utilizou a liderança social de Lula e que hoje está alijado do poder. A bandeira da ética só poderá ser reconquistada quando o PT retomar suas discussões de base, democráticas, coletivas e sem sectarismos de grupos institucionais (extensões dos gabinetes das “autoridades”), a estas deveria ser retomada a cultura do PT de lutas que designava as mais importantes tarefas, condicionando perenes prestações de contas de seus mandatos.

Reorganizar de modo contemporâneo a classe operária, os camponeses e os excluídos; reconquistar e formar novos intelectuais orgânicos; formarmos quadros ideológicos disciplinados e sem vaidades burguesas... Após um bom tempo o respeito que setores do Partido e a constante e desnecessária afirmação do monopólio da ética poderá ser obtido, assim como a empolgação de dizer “sou PT de coração, oPTei”.
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