quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

POLÍTICA x POLÍTICA com José Nilvado Junior

Blog Teresa Leonel - No seu livro “Maquiavel o poder” você define o poder como a única forma eficaz encontrada pela sociedade humana para viabilizar sua reprodução e sua sobrevivência (Ed. Martin Claret, p.26). Isso explica por que muitos candidatos a cargos políticos mesmo tendo riqueza e prestigio precisam se mostrar para se firmarem no poder?

José Nivaldo Junior - Riqueza, prestígio e poder andam atrelados em termos de classes sociais, de controle do aparelho do Estado. No entanto, na democracia, geralmente os eleitores não votam em candidatos que são, eles mesmos, expressões do poder econômico.
O candidato que já é rico, que é visto como tal tem, não apenas, que se mostrar, mas convencer o eleitorado de que representa a melhor opção para beneficiar o povo. E isso, convenhamos, não e tarefa fácil. Pense bem: nos últimos 25 anos, qual o milionário que já se elegeu presidente da República, governador de São Paulo ou de Pernambuco?

BTL - Com sua experiência em campanhas eleitorais, qualquer pessoa não midiática, digamos assim, pode ganhar uma eleição em função de uma boa estratégia de marketing político?

JN – O que ganha ou perde eleições, fundamentalmente, é a política. Se o candidato não midiático representar o desejo do eleitorado, provavelmente vencerá. Uma boa estratégia de marketing político ajuda, sem dúvida. Às vezes, em disputas muito equilibradas, pode ser o fator decisivo.

BTL - E falando em marketing político, como se explica o índice de aceitação do presidente Lula a despeito de todas as questões éticas e morais estreladas durante os seus governos? Lula é maior do que o PT?

JN – São duas perguntas. Começo pela segunda. Lula é, hoje, um dos 20 líderes mais influentes do mundo. Governa com uma federação de partidos, portanto seu governo é maior que o PT. Porém, sem o PT, qual seria o tamanho de Lula? O índice de aceitação de Lula decorre de suas políticas sociais e do altíssimo grau de identificação com o povo. Ninguém fala a língua do povo como ele.

BTL - “Nunca antes na história desse país” houve um presidente como Lula? O que Lula tem que não se achou em Juscelino Kubitschek ou Getúlio Vargas (depois do período ditatorial) ou Fernando Henrique, por exemplo?

JN – Getúlio e JK foram grandes presidentes, num modelo desenvolvimentista. Ambos mudaram a face do País. FHC cumpriu o papel de inserir o País no mundo globalizado.
E Lula é Lula. Um operário, retirante da seca, de família extremamente popular que chega à presidência, assume o papel de pai dos necessitados com programas e ações que nunca tinham alcançado a dimensão atual. Então, na visão do proletário no poder, encaixa-se a frase que é verdadeira, embora às vezes soe um pouco exagerada.

BTL - Mesmo com toda aceitação da população, por que Lula não conseguiu “eleger” alguns prefeitos em cidades importantes como Petrolina? A que você atribui tal fato?

JN – Cada eleição tem um perfil, que tende a ser nacional. Nessa eleição de prefeito (2008), o que prevaleceu foi a vontade do povo de continuar as gestões aprovadas, com a reeleição dos prefeitos ou dos candidatos indicados por eles. Lula só elegeu prefeitos onde seu apoio coincidiu com esse fator decisivo. E como sempre, existem as exceções. Petrolina foi uma delas. A briga interna do partido no poder, com a indicação de um candidato que não expressava a continuidade, abriu caminho para a brilhante vitória de Lóssio.

BTL - Em função do efeito Lula, sua candidata à presidência, Dilma Rousseff, tem chances de ganhar a confiança do eleitor brasileiro?

JN – Sem a menor dúvida. Caso Lula chegue em 2010 forte, caso o povo queira a continuidade do seu mandato, o candidato que ele apoiar será fortíssimo. Será mais forte quanto maior a identificação pessoal com o presidente. E isso, quem demonstra, até o momento, é a ministra Dilma. Aproveito para dizer que a viabilidade de Dilma não será medida por índices de pesquisa e sim por avaliação política. Vou citar apenas 2 exemplos: João da Costa (PT), no Recife, e Gilberto Kassab (DEM), em São Paulo, estacionaram na casa de um dígito, nas pesquisas, até bem próximo da eleição. E ganharam.

BTL - Que outra opção do PT nós temos à presidência?

JN – Repito: se Lula estiver forte, se o povo optar pela continuidade, qualquer candidato do PT será forte, principalmente se tiver identidade com Lula.

BTL - O bolsa-família e todos os derivados desse pacote podem ser considerados a grande estratégia política do governo Lula?

JN – Sem dúvida. Os programas sociais constituem a base da identidade popular do governo Lula. Porém não se deve desprezar a política econômica. Pode-se concordar ou discordar, mas foi ela quem garantiu a credibilidade internacional que o governo brasileiro alcançou na era Lula.

BTL - O Brasil tem hoje 27 partidos políticos registrados no Tribunal Superior Eleitoral. No entanto, apenas três, PMDB, PT e PSDB, definem as estratégias eleitorais. De que forma isso ajuda num processo democrático?

JN – Não concordo com a formulação da pergunta. PT e PSDB têm estruturas que permitem o lançamento de candidaturas nacionalmente viáveis e podem concorrer à presidência. O PMDB é um partido parlamentar, com fraca coesão interna e força em muitos Estados. É o fiel da balança. Os demais partidos cumprem seus papéis, gravitando em torno do PT e PSDB, quando se trata da disputa nacional.

BTL - Por que os partidos políticos no nosso sistema não são fortalecidos?

JN –
O Brasil nunca teve partidos fortes. No século XX, dois períodos ditatoriais golpearam as estruturas partidárias. Acrescente-se que os partidos vivem, no mundo inteiro, uma certa crise de identidade. Porém, se você olhar o quadro, desde 1984 construímos partidos fortes, expressivos, alguns com perfil nacional executivo, outros com perfil legislativo, outros que funcionam como uma confederação partidária. Eu considero que este processo está levando o quadro partidário brasileiro a um fortalecimento e a um perfil muito interessante.

BTL - As pessoas votam em nomes e não nos partidos? Isso não enfraquece as agremiações?

JN –
As pessoas votam em circunstâncias. Os nomes, os partidos que expressam as circunstâncias, ganham o voto. Não concordo com a visão corrente de que o quadro partidário brasileiro esteja se enfraquecendo. Tem muita coisa para ser feita, muito para ser conquistado, porém o processo avança de modo satisfatório, a meu ver.

BTL - As eleições municipais são diferenciadas em relação à eleição presidente/governador/deputado. No entanto, as estratégias de campanhas estão sempre atreladas aos próximos pleitos. Como explicar isso?

JN – Discordo da pergunta. É verdade que, em alguns casos, são montadas estratégias de campanha com um olho no futuro. Eu mesmo já fiz isso. Vou citar apenas um exemplo: a campanha de Marta Suplicy (PT) para governadora de São Paulo, em 1998, foi montada visando à vitória à Prefeitura em 2000. Mas geralmente não é isso que acontece. Cada eleição é uma eleição, essa é a regra que prevalece.

BTL - Apesar da ausência explícita de carisma do atual prefeito do Recife, João da Costa (PT), a popularidade de João Paulo (PT) empurrou com força sua campanha. Podemos dizer que João Paulo é também uma expressão de mito?

JN – João Paulo é hoje uma liderança metropolitana consolidada e um pólo de poder no Estado. Ainda não é um mito, embora seja forte candidato. A eleição de João da Costa combina três fatores: a aprovação de João Paulo, o desejo de continuidade e as qualidades do candidato.
A mídia subestimou, e alguns setores ainda subestimam João da Costa. Ele é um quadro qualificadíssimo. Conhece o Recife como ninguém e tem uma visão técnica aprimorada do processo urbano. Surpreendeu como candidato e vai surpreender como prefeito.

BTL - Sem querer entrar nos bueiros da política, quais os nomes que podem ser ressaltados como candidatos ao Senado e a Governo de Pernambuco?

JN – Ainda é cedo para tratar de 2010. O governador Eduardo Campos (PSB) é um nome fortíssimo para a reeleição, se não for convocado para uma missão nacional. Jarbas Vasconcelos (PMDB), se resolver entrar na disputa, é muito forte, como fortes são Marco Maciel (DEM) e Sérgio Guerra (PSDB) para o Senado.
Agora, vamos aos que estão sem mandatos: João Paulo (PT) encabeça a lista. E temos Armando (Monteiro) Neto (PTB), José Múcio (PTB), Fernando Bezerra Coelho (PSB), já cogitado na mídia. Além de vários outros que não quero citar para não esquecer alguém.

BTL - Pegando carona nas eleições de 2008 quais os seus trabalhos em marketing político para 2010?

JN – Eu não escolho clientes. Os clientes é que me escolhem. Por enquanto, não tenho qualquer compromisso para 2010.

BTL - O que faltou eu perguntar e você responder? Tem alguma coisa a dizer que ainda não saiu na imprensa?

JN – Se faltou não me lembro. Não saiu na imprensa a saudade que eu tenho dos nossos papos ao vivo. Mas o blog ameniza isso. Pelo menos, lhe leio.