domingo, 29 de junho de 2008

Eleições Municipais - Parte 2

Partidos fragilizados pela “fulanização”

Ausência de ideologia, disputas internas e colocação das lideranças acima das instâncias partidárias são responsáveis, de acordo com alguns especialistas, pela descaracterização das legendas no País

As brigas vivenciadas pelos partidos é mais um sinal da descaracterização dessas instituições no Brasil. Essa é a análise feita por especialistas, que vêem as disputas internas e a predominância da opinião da cúpula sobre a das bases como um indicativo da “fulanização” das ações. Segundo eles, a idéia de partido como um agrupamento baseado em ideologias e programas há muito foi substituída pela personificação.

“Hoje, os partidos são inferiores aos seus líderes. Como se pode falar em democracia se os filiados são mais importantes que as próprias instâncias representativas?”, questiona o cientista político Hely Ferreira, conselheiro do Núcleo de Estudos Eleitorais e Partidários da UFPE. Segundo ele, essa inversão de papéis gera uma crise ideológica e programática. “Retira-se dos partidos o caráter institucional e passa-se a usá-los para beneficiar lideranças pessoais. Isso gera um poder que permite que as decisões sejam tomadas de cima para baixo, com a cúpula decidindo sem ouvir as bases”, explica.

O professor estende sua crítica a todos os partidos, inclusive o PT, conhecido por ouvir todos os setores antes de tomar qualquer decisão. “O PT faz isso de forma teatral. Faz reuniões, ouve todo mundo, mas o que prevalece é a opinião dos líderes, e a base acata”, afirma.

Fundador do antigo MDB, o ex-ministro da Justiça Fernando Lyra corrobora a opinião de Ferreira, e vai além, ao defender que, no Brasil, jamais existiram partidos autênticos. Segundo Lyra, partidos têm que ser fruto de ideologias e programas, e o que ele vê no País são meros “ajuntamentos” decorrentes de uma determinada época ou de vivências políticas. “Os partidos não têm sintonia com a realidade. Por isso não conseguem unidade. Ora a base desmoraliza a cúpula, ora a cúpula ignora as bases”, analisa.

Lyra cita como exemplo a crise gerada pelo PT de Belo Horizonte ao buscar aliança com o PSDB, desprezando o fato de ser o principal partido de oposição ao governo Lula. Cita, ainda, o apoio do governador tucano José Serra à candidatura de Gilberto Kassab (DEM) à Prefeitura de São Paulo, contrariando a orientação do PSDB, que lançou Geraldo Alckmin.

Mas um dos melhores exemplos de falta de sintonia interna, segundo Lyra, está no PTB, que integra a base de Lula e tem como presidente o ex-deputado Roberto Jefferson, duro crítico do governo e autor das denúncias sobre o mensalão, que abalaram o primeiro mandato petista.(S.M.F.)