segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Quando as palavras continuam soltas

Parece que jogar com as palavras e seus diversos significados temporal tem sido uma dinâmica constante de alguns intelectuais, escritores, jornalistas de sites ou revistas “alternativas”, tipo Caros Amigos, Carta Capital, para citar algumas.

“Nunca antes na história desse país” houve tanto debate sobre “ética”, “moral” e “decência” de forma coloquial, desprovidas de contextualização e justificativas para arrumar explicações nada cabíveis de desvios de condutas ou algo semelhante.

“Nunca antes na história desse país” se apresentou tantos episódios de corrupções em governos anteriores, sobretudo o de Fernando Henrique Cardoso e seus compatriotas, para justificar os desvios de condutas e quebra de decoro do governo atual.

“Nunca antes na história desse país” a mídia foi alvo de tanta reflexão, xingamento, desconfiança, bombardeio quanto à credibilidade e tendências partidárias.

A despeito do que verdadeiramente se propõe os defensores da honradez e moral dos atos políticos praticados pelos pregadores da decência, vale aqui um passeio pelo livro de Roger Silverstone (1) no seu questionamento sobre as razões pelas quais se estuda a mídia.

Silverstone explica que a mídia tem o “poder de mudar o equilíbrio de forças: entre Estado e cidadão; entre país e país; entre produtor e consumidor... trata-se apenas de propriedade e controle: o quem, o quê e o como... de sustentar significados; de persuadir, endossar, reforçar... o poder de minar e reassegurar. Trata-se de alcance e de representação: a habilidade de apresentar, revelar, explicar; assim como a habilidade de conceder acesso e participação. Trata-se do poder de escutar e do poder de falar e ser ouvido”.

Muito além do que imaginamos, estamos sim vivendo um conflito de idéias e conceitos ideológicos. Afinal, foi dentro dos centros acadêmicos que muitos dos pensamentos renovadores, criadores pra não dizer neoliberal, pós-moderno ou contemporâneo foram construídos, debatidos de forma exaustiva para finalmente ir para as ruas e conquistar o poder. Muitos dos intelectuais acadêmicos estão taciturnos, meditabundo, cabisbaixo, calados, omissos, inertes... aguardando o porvir.

É natural. Os nossos questionamentos estão em conflitos: o que é esquerda e direta hoje; quais as instituições que estão comprometidas com o cidadão; quais os movimentos sociais que estão representando o coletivo, o conjunto de pessoas; a quem podemos empregar rótulos de credibilidade, confiança, altivez; quem é nosso inimigo real e virtual; que armas (simbólicas ou não) podemos usar contra as palavras, o discurso, os conceitos...

O grande questionamento é: contra quem estamos lutando?
Jogar as palavras de forma aleatória para atirar em um ou outro, pode não ser realmente o caminho certo. Resta então, exercitar o debate nas escolas, universidades, sindicatos, associações, ONGs e tantas outras instituições que representem de fato e de direito os interesses da maioria da sociedade para que possamos visualizar possibilidades de mudanças.

Em nada ganharemos com o radicalismo das convenções absolutas, onde estamos colocando a mídia, por exemplo, como a grande vilã dos acontecimentos horrendos. Até onde podemos compreender a grande imprensa não criou quadros de pessoas detentoras de mensalões, falcatruas e falta de decoro parlamentar.

É preciso creditar a quem de fato cabe tais responsabilidades para que possamos rever nossos conceitos de honradez e decência. É necessário também instigar a grande imprensa ao debate para que ela não adormeça ou passe por cima dos acontecimentos de forma arrogante, intocável e infalível. Fato totalmente irreal.

Possivelmente, dessa outra maneira de fazer as coisas construiremos uma nova realidade a partir desse novo olhar.

(1) SILVERSTONE, Roger. Por que estudar a mídia. São Paulo: Loyola, 2002.p.263