quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Bebel no Senado - Dad Squarisi - Correio Braziliense

"Muitos riram. Mas houve os que choraram. O último capítulo de Paraíso tropical levou servidores do Senado às lágrimas. A Câmara Alta substituiu o calçadão de Copacabana. Bebel, fantasiada de Evita, depõe numa fictícia CPI dos Combustíveis. Suas Excelências esbravejam.

Acusam-na de laranja que teria recebido mesadinha de usineiro beneficiado por emendas no Orçamento. Ela ri. Entre irônica e ingênua, diz que se tornou empresária sem saber. Teúda e manteúda de um senador da República, avisa que posará pra Playboy, mas será nu artístico. O sonho da agora prostituta de luxo é ser apresentadora de tevê.

Ficou clara a referência ao dramalhão Renan Calheiros. Reações? Wellington Salgado & companhia corporativista se irritaram. A cena seria “forçação de barra cujo propósito é desconstruir o Senado”. Fingiram ignorar que, no caso, a arte imita a vida. É a vida que enxovalha a instituição. Há quatro meses circula de tudo pelos tapetes azuis da casa: transformação de gabinete em motel, tráfico de influência, lobistas fazendo a festa, troca de votos por cargo. Pior: ao absolver Renan da acusação de quebra de decoro, a maioria julgou as práticas normais. Que bofetada nos brasileiros, hein?

De quebra, as excelências escancararam as portas para a tese defendida pelo PT — a extinção do Senado. A proposta soa como música aos ouvidos dos cidadãos cansados de pagar impostos pra “financiar safadezas”. Há, porém, um pormenor. Indignação afeta a memória. O Senado representa os estados. Ali, cada uma das 27 unidades da Federação tem três representantes. É diferente da Câmara, cujas bancadas são proporcionais ao número de habitantes. O Senado é, pois, ponto de equilíbrio. Sem ele, os grandões (São Paulo e Minas) se tornarão donos do pedaço.

Mais: o Executivo nadará de braçadas. É o ensaio do chavismo.

O Congresso tem 81 senadores e 513 deputados. Quando pipoca um escândalo, contamina-se a instituição. Estrago após estrago, dá-se munição pra fechar o Senado. Depois, a Câmara. Sem um alicerce do tripé, a democracia vira ditadura. Daí o choro dos servidores. Eles sabem: os parlamentares passam. A instituição fica. Mas a atual legislatura quer apagar a luz. Investe pra ser a última a sair".