domingo, 12 de agosto de 2007

Farinha do mesmo saco

Recebi do meu amigo Pinzoh o artigo de Nelson Motta veiculado dia 10, na Folha de São Paulo, setor Opinião. Resolvi postar por aqui pra gente refletir também.
Afinal, quando pensamos em farinha do mesmo saco estamos considerando que todos minúsculos grãos, dependendo do tipo de farinha, uns maiores outros menores, mas todos estão ensacados num mesmo recipiente e, portanto, são semelhantes porque tem a mesma composição.

Inimigos íntimos
Nelson Motta

Nem a Polícia Federal, nem o Ministério Público, nem a imprensa: foram atos individuais de Pedro Collor, Nicéa Pitta e Roberto Jefferson que trouxeram à luz as tenebrosas transações que levaram ao impeachment de Collor, à condenação de Celso Pitta, ao mensalão e à queda de José Dirceu.

Essas pessoas, movidas por sentimentos pessoais, acabaram prestando inestimáveis serviços ao país. Sem o ódio deles, tudo continuaria como estava. É o que vale: a história não é feita de boas intenções, mas de conseqüências. Traições, humilhações, invejas, rancores, o ser humano é muito sensível a esses sentimentos. Aqui, a vingança não é um prato comido frio, mas fumegante.

Renan Calheiros, por exemplo, foi um dos artífices da vitória de Collor sobre Lula, integrou a linha de frente collorida e só rompeu com elle quando foi preterido em favor de Geraldo Bulhões para o governo de Alagoas. Até então, estava poderoso na cúpula do governo, freqüentava o círculo íntimo presidencial e nunca percebeu nada de errado com o poder de PC Farias e a ética de Collor e da República de Alagoas.

Traído, rompeu com seu líder em nome da decência e da democracia. Derrotado, denunciou a farsa collorida e, sempre um homem de esquerda, foi para a trincheira democrática do PMDB, unindo-se a Sarney e a Jader.Como nos romances regionalistas sobre guerras entre famílias nordestinas, uma outra vingança pessoal -pela traição de Renan ao usineiro e ex-companheiro de lutas João Lyra na eleição para o governo de Alagoas- revelou que ele pagara R$ 1,3 milhão, não contabilizados, para ser sócio, oculto e ilegal, do acusador em uma rádio e um jornal.

Não por acaso, é justamente o medo da vingança de Renan que atrasa a sua expulsão do Senado.