segunda-feira, 4 de junho de 2007

Marketing político X imprensa inerte

Este artigo foi enviado para todos os grandes jornais em circulação no país, O Globo, O Dia, Folha de São Paulo, Estadão, O Povo, Diario de Pernambuco, Jornal do Commercio, entre outros por ocasião da chegada do Papa ao Brasil.
Caros editores,
Não poderia ficar parada diante da cobertura dos maiores jornais em circulação/assinatura do país com a chegada do Papa ao Brasil e o descaso, a inércia, o comodismo da imprensa (na maioria dela) em relação ao aumento salarial dos nossos maravilhosos deputados.
Com uma produção cinematográfica comparável (na proporção) aos grandes filmes roliudiano (bem abrasileirado), com os melhores planos, ângulos, cadernos, revistas e links especiais, vidas cotidianas que viraram celebridades da noite para o dia... uma parafernália de equipamentos e um exército de jornalistas para manusear e o próprio exercito brasileiro nas ruas.... a imprensa se armou, se preparou, produziu.... para a maior cobertura: a chegada do Papa. O que come o Papa? O que pensa o Papa?
Enquanto isso... no Congresso Brasileiro... tan-tan-tan-tan... nossos admiráveis, competentes, honestos e decentes deputados, aproveitando este momento de inércia da sociedade e da disputa da imprensa pela espetacularização da notícia PAPA, fecha com chave de ouro a pauta principal da casa (e causa) parlamentar: o aumento dos seus próprios salário e benefícios. Sem registro no painel eletrônico, os deputados aprovaram reajuste salarial de 29,81%. Cada “competente” parlamentar vai ganhar um salário de R$ 16.512,09. O aumento também vale para o presidente, vice e ministros.

Não há como não parabenizar os nossos “comprometidos” deputados por esta estratégia de marketing executada de forma ímpar, digna de nota 10 em aulas de MBA. Afinal, são esses nossos baluartes da moral, bons costumes, defensores da ética e seriedade que trabalham em prol do povo, e em função dele. Faz-me ri!!
E nossa imprensa? Hoje, os maiores jornais em circulação/assinatura do Brasil, Folha de São Paulo, O Globo, Estadão, O Dia, Correio Braziliense, O Povo, Jornal do Commercio, Folha de Pernambuco, pra citar alguns, trazem o Papa como manchete principal (quase todas iguais, inclusive) e o aumento dos deputados em uma parte qualquer da página (no canto debaixo para alguns, apenas uma linha para outros). O Jornal do Brasil, por exemplo, colocou um rodapé entre outras notícias que passa assim... totalmente assim.., no rodacéu tava a morte de Herval Rossano (nada contra o diretor) que é mais importante, claro. É preciso registrar então a chamada de capa do Diario de Pernambuco (não é rasgando seda e sim o verbo), mas o velho DP fez uma grande chamada de capa “ Lula e deputados têm aumento...” e nem por isso deixou de colocar a notícia da vez (o Papa) na capa.
Diante de uma questão midiatica tão séria como essa, vale uma grande reflexão. Que agenda é esta que os profissionais de redação estão se pautando? Que profissionais estamos “ produzindo” na academia, nas faculdades, para entrar num mercado de comunicação que está reproduzindo o mesmo? Será que não é destaque o aumento dos parlamentares que vai gerar um grande efeito dominó nos estados e municípios? Isso não é a pauta mais importante dos maiores jornais, sites, rádios e TV do país? O nosso dinheiro, os nossos impostos estão descendo pelo esgoto e isso não é tão importante?? Os parlamentares (alguns até assumiram isso....) disseram que aproveitaram o momento de comoção, de emoção do povo em relação a visita do Papa, e onde o foco da imprensa estava voltado totalmente para esta cobertura, exatamente para “aplicar o golpe branco”!! E o que a imprensa faz no outro dia? E o que a sociedade faz no outro dia?
Nossa imprensa acordou mais pobre hoje. Não porque cobriu e continua sensacionalizado a visita do Papa. É um fato e uma grande noticia. Mas porque deixou de cumprir com o seu papel de estimular o debate, a reflexão da sociedade a partir de um destaque maior dessa problemática política e seus efeitos.
Para que a sociedade tenha um novo olhar sobre a realidade é preciso ter uma imprensa comprometida com esta mesma sociedade.