quinta-feira, 5 de julho de 2007

Entrevista José Nivaldo Junior

Bacharel em Direito, mestre em História, jornalista e publicitário desde a juventude, José Nivaldo Junior ou o marketeiro político Zé Nivaldo, como muitos gostam de chamar, tem uma trajetória longa nesta área. É diretor da Makplan, uma das agências com maior experiência em marketing político do Brasil. No seu portfólio estão várias campanhas eleitorais entre elas a de Leonel Brizola para presidência da República em 1989, a de Marta Suplicy para o governo de São Paulo em 1994 e para prefeitura em 2000. Neste mesmo ano, levantou a estrela petista para João Paulo à prefeitura do Recife, e em 2004 esteve ao lado de Paulo Maluf à prefeitura de São Paulo. Zé Nivaldo assessora e presta serviços para governos em todas as regiões do País.

Já fiz outras entrevistas com o mestre, mas esta exclusiva para este blog tem um sabor diferente. Afinal, com tantos compromissos de Zé Nivaldo ele tirou um tempinho para ler meu e-mail com as perguntas e retornar quase que de imediato com as respostas que vocês podem apreciar agora.


Blog Teresa Leonel - Depois dos vários escândalos do governo PT e da falta de credibilidade dos políticos em geral que análise você faz em relação as eleições de 2008?
José Nivaldo - Ainda é cedo para pensar 2008. Tem muito depende pela frente. Depende da reação do Congresso às denúncias, do nível de indignação (ou torpor) da sociedade e das regras eleitorais que vão vigorar. Além disso, as eleições serão municipais e a crise, até agora, é federal.

Blog Teresa Leonel - Com os escândalos em todos os níveis e partidos, você acredita que haverá uma mudança no perfil dos novos candidatos?
Zé Nivaldo - Sinceramente, não acredito.

Blog Teresa Leonel - Que perfil e discurso político você acredita que o eleitor está esperando dos candidatos?
Zé Nivaldo - Creio que o discurso ético vai ganhar força. Além disso, como sempre, o eleitor mandará um recado aos poderes nacional e estaduais.
Trabalho com a hipótese de que candidatos com perfil oposicionista partirão com alguma vantagem, pelo menos nas cidades maiores.

Blog Teresa Leonel - O marketing político é o melhor instrumento para apresentar as propostas dos candidatos e convencer o eleitor? O que fazer para conquistar o eleitor?
Zé Nivaldo - O marketing político não tem receitas mágicas. Em princípio, oferece as melhores opções estratégicas e de comunicação para que o candidato se apresente ao eleitor da melhor forma. Também não existe uma fórmula genérica para conquistar o eleitor. Cada caso tem que ser estudado de acordo com um conjunto de fatores, que incluem a realidade local, o perfil e histórico do candidato, seu posicionamento político/ideológico e os compromissos que está disposto a assumir diante do eleitorado que se propõe a conquistar.

Blog Teresa Leonel - Em geral, que análise você faz sobre a chamada reforma política? Explique um pouco essas questões como voto em lista; financiamento público de campanha, voto distrital.
Zé Nivaldo - A reforma política é mais uma atitude casuística do Congresso, uma forma de se livrar das pressões e dar uma satisfação à sociedade. A prioridade da reforma política deveria ser a consolidação das regras eleitorais, que nunca amadurecem porque são modificadas periodicamente. Caso fosse adotado, o voto em lista significaria que o eleitor não mais votaria em candidatos e sim em partidos. Cada partido apresentaria sua lista de candidatos, que seriam eleitos pela ordem, conforme o voto que a legenda recebesse. Essa opção está temporariamente arquivada. O financiamento público significa o Estado, isto é, a sociedade, arcar com os custos das campanhas, acabando a arrecadação de recursos privados. O voto distrital significaria a divisão do País em distritos eleitorais. Cada distrito elege seus deputados pelo voto majoritário, ou seja, os candidatos concorrem uns contra os outros naquele determinado distrito e só um é eleito.

Blog Teresa Leonel - Os tópicos da reforma política não estão mais voltados para o processo eleitoral do que para mudanças significativas no processo político?
Zé Nivaldo - Você tem inteira razão. O que se chama de reforma política é na verdade mais uma alteração das regras eleitorais, uma fórmula repetidamente adotada para jogar a crise para o alto.

Blog Teresa Leonel - Um dos tópicos da reforma é o voto facultativo. Ou seja, o voto torna-se um direito, e não um dever. O eleitor não é obrigado a comparecer às urnas. Isso já não deveria fazer parte da democracia no Brasil?
Zé Nivaldo - O voto deveria ser facultativo, sempre. Votar é um direito e as pessoas deveriam ter a prerrogativa de utilizar ou não desse direito.

Blog Teresa Leonel - Provocando um pouco o seu olhar crítico, que tipo de análise você faz em relação aos chamados “políticos de interior”, como é o caso de Petrolina? Eles interferem, têm força, no cenário estadual?
Zé Nivaldo - Uma coisa é o político local, outra é o político estadual e outra o nacional. Depende da dimensão e dos papéis que as lideranças assumem. Todos os políticos são importantes, todos têm sua contribuição. Petrolina é pródiga em gerar políticos que assumem uma dimensão estadual, com grande contribuição para o progresso econômico e social de Pernambuco e também da Bahia.

Blog Teresa Leonel - Pelo seu conhecimento em assessoria de campanhas políticas como o eleitor que é leitor/ouvinte/telespectador pode analisar as pesquisas publicadas meses antes da eleição? Que dicas você daria como especialista em relação aos cuidados que ele deve ter na leitura dessas pesquisas?
Zé Nivaldo - A melhor e a mais repetida avaliação da pesquisa é o chavão de que ela representa o retrato do momento. A pesquisa é de opinião. Voto é decisão. A opinião coletiva pode mudar - e frequentemente muda - até na hora do voto. Por isso, muitas vezes fica a imagem de que as pesquisas erraram. Pesquisa só erra se for mal feita, ou dentro das margens de erro e do intervalo de confiança. O que muda é a opinião do eleitor no momento do voto.

Blog Teresa Leonel - Filosofando um pouco, por que muitas pessoas querem ser candidatos a um cargo político? É apenas para estar no poder?
Zé Nivaldo - A política faz parte da sociedade. Em todos os ambientes existe liderança. É natural que pessoas com capacidade para liderar sejam impulsionadas para a vida pública. É uma convocação da qual as pessoas não podem fugir e muitas vezes sequer conseguem explicar. Enquanto houver sociedade, haverá poder. Enquanto houver poder, haverá disputa por ele, em todos os níveis.

Blog Teresa Leonel- Agora pra gente fechar com chave simbólica, existe alguma campanha política que você como marketeiro/publicitário vai fazer aqui em Petrolina?
Zé Nivaldo - Eu não escolho clientes. Os clientes é que me escolhem. Também não discrimino partidos ou lugares. Já fiz campanha em Floresta e em São Paulo, por exemplo, e trabalhei para candidatos de praticamente todas as legendas. Por enquanto, tenho várias sondagens, mas nenhuma campanha fechada para o próximo ano. Ainda tem muito chão pela frente.