Amigo de fé, irmão, companheiro. Esteve nos momentos mais difíceis da sua trajetória política. Em situações de desagravo com empresários, com a famigerada elite, contra os militares, nas várias passeatas pelo Brasil a fora, em todas as campanhas eleitorais, na criação do PT e na montagen da plataforma de trabalho, na seleção dos companheiros de casa e da rua, nas definições estratégicas para as áreas econômicas e políticas, no conteúdo do discurso e na saída da Casa Civil.
José Dirceu é o elemento chave de um quebra-cabeça com muitas peças ainda a serem encaixadas. A significação da representação deste homem para o governo Lula é digna de um estudo psicopatológico que nem Lacan chegaria tão perto da compreensão.
Verdadeiramente o Brasil tem formado grandes personagens a serem estudados pelas Ciências Humanas e Sociais. Qualquer semelhança entre José Dirceu, superintendente de uma gang de paletós almofadinhas com gravatas vermelhas e lapela de estrela e o “engenheiro intelectual” do trafego de drogas, assassino sanguinolento e líder do Primeiro Comando da Capital, Willians Herbas Camacho, o Marcola, não é mera coincidência.
Ambos têm o mesmo DNA do poder e querem se perpetuar nele. Ambos desejam controlar grupos ou facções. Ambos são intelectuais e utilizam estratégias bem elaboradas para conquistar objetivos. Ambos destroem todo aquele que não comunga das suas idéias e constroem barreiras de proteção para se mostrar inocentes diante dos fatos. A diferença pode ser encontrada no temperamento, no estilo explosivo e demolidor de um, e na mansidão ilusionista do outro que ao agir de forma sutil em atentados a sociedade, não deixa dúvidas da sua crueldade e em alguns momentos chega mesmo a tirar o fôlego.
Em se tratando de José Dirceu seu poder de fogo está no conjunto de idéias apresentadas e defendidas como certas para um grupo que sempre esteve em suas mãos e se deixou manipular durante anos para também fazer parte deste poder.
Comparações à parte, o chefe da quadrilha dos 40 larápios, também conhecido como Mensalão, diz que está sendo perseguido por uma elite burguesa, orquestrada de forma simultânea. Para ele não há provas para incriminá-lo. E por ausência das provas “esses grupos” que perseguem o Governo Lula, protagonizado pela grande mídia, estão fazendo um julgamento político e não de direito.
Com todo vacilo, prepotência e argumentos detonadores que realmente a grande mídia pratica em muitos momentos, ainda assim, é muito forte atribuir a toda imprensa a decadência de uma plataforma de trabalho, de um projeto de democracia construído durante muitos anos e apresentados à sociedade como ideário e por isso mesmo legitimado nas urnas.
Seria exagero pensar que a mídia chegaria a tanto.