Jornal do Commercio
Briga entre caciques e bases agita partidos
Publicado em 29.06.2008
Ao longo da pré-campanha, que antecedeu às convenções, atritos entre dirigentes e integrantes das bases de várias legendas marcaram as articulações das alianças e a montagem dos palanques
Sérgio Montenegro Filho
smontenegro@jc.com.br
Diferenciada pela rearrumação de forças, a pré-campanha deste ano teve a marca dos constantes atritos entre bases e cúpulas dos partidos. Não foram poucas as vezes em que decisões de dirigentes partidários contrariaram a vontade dos seus liderados, gerando divergências internas que, se não levaram ao racha, no mínimo provocaram uma lavagem de roupa suja em público. São confrontos que contribuem para agravar a já desgastada imagem das legendas.
Pesquisa realizada em junho – sob encomenda da Associação dos Magistrados do Brasil – aponta os partidos como as instituições com o maior índice de rejeição popular no País. Nada menos que 72% dos entrevistados declararam seu descrédito nas agremiações políticas.
O temor do desgaste, porém, parece ficar em segundo plano quando está em jogo a disputa pelo poder. Um dos maiores confrontos internos aconteceu num partido pequeno, o PV. O primeiro atrito começou entre o grupo que defendia uma aliança com Raul Henry (PMDB) – formado pelas bases – e o que preferia Raul Jungmann (PPS), na maioria composto por dirigentes.
Venceu a aliança com o pós-comunista que, no entanto, retirou seu nome da disputa, novamente dividindo o PV entre s palanque de Mendonça Filho (DEM) ou lançar candidatura própria.
A retirada de Jungmann foi outro episódio de embate interno. A direção do PPS vinha sendo pressionada por pré-candidatos a vereador, preocupados com a corrida em faixa própria. O deputado entendeu a situação, agravada pela falta de recursos para a campanha, e deixou a disputa. Sua saída gerou conflito no PPS, que subiu no palanque de Cadoca contra a vontade do presidente nacional, Roberto Freire, simpático à aliança com Raul Henry.
As pequenas legendas – geralmente dominadas por um só político – mostraram talento para o vaivém dos palanques. Uma das posturas mais polêmicas foi a do presidente estadual do PSDC, Luiz Vidal. Primeiro, ele defendeu, junto às bases a candidatura própria de Clóvis Corrêa. Depois, usando as mesmas bases como argumento, rifou Corrêa, que deixou a legenda, e negociou apoio a Raul Henry, sem descartar a opção por Mendonça Filho. No final, levou a sigla para João da Costa (PT). Episódio parecido aconteceu no PTC, do deputado estadual Eriberto Medeiros.
Praticamente fechado com Cadoca, ele surpreendeu ao anunciar apoio a João da Costa. Dois dias depois, recuou e voltou para os braços do PSC.
Mas não são apenas os partidos menores que vivem às turras. Um dos maiores do País, famoso pelas brigas internas, o PT manteve a tradição. No final do ano passado, a sigla viveu um clima tenso com a saída do deputado Paulo Rubem Santiago. Postulante à Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes, ele foi preterido em favor de André Campos. Rubem filiou-se ao PDT, mas corre o risco de perder o mandato e ficar inelegível, graças ao recurso impetrado pela direção nacional petista na Justiça Eleitoral para reaver a sua vaga na Câmara Federal.
Outro partido da lista dos maiores, o PTB, também viveu seus sobressaltos. Colocado na disputa pela Prefeitura de Olinda, o ex-vice-prefeito Arlindo Siqueira reagiu à decisão da direção estadual de apoiar Renildo Calheiros (PCdoB) e realizou, à revelia, a convenção para homologar sua candidatura, que não contará com o respaldo do deputado Armando Monteiro Neto, presidente do partido.